As drogas quimioterápicas se distribuem por todos os locais do corpo, atingindo, dessa forma, todas as células que estão com problemas. No entanto, células normais também são atingidas, podendo provocar alterações no organismo que são chamadas de efeitos colaterais. Na maioria das vezes, esses efeitos são passageiros e podem ser evitados ou atenuados, quando seguidas corretamente as orientações da equipe de saúde.
LEMBRE-SE: esses efeitos colaterais não acontecem com todas as pessoas que fazem quimioterapia, pois dependem do tipo de medicamento utilizado e do organismo de cada paciente.
A seguir falaremos de alguns efeitos mais comuns e o que você deve fazer para evitá-los ou reduzi-los.
NÁUSEAS E VÔMITOS
Esse efeito colateral é decorrente da irritação nas paredes do estômago e do intestino, ou da ação direta do quimioterápico no Sistema Nervoso Central. Nem todos os medicamentos quimioterápicos provocam náuseas e vômitos. A intensidade vai depender do tipo de droga utilizada, da dose e de como o organismo reage. Estes efeitos podem aparecer uma hora ou várias horas após a administração da quimioterapia. Felizmente, existe um grande número de medicamentos antináuseas disponíveis que são utilizados como prevenção antes da quimioterapia e nos dias que se seguem ao dia da aplicação.
DICAS
- No dia do tratamento, faça uma refeição leve 1 hora antes da aplicação, evitando alimentar-se imediatamente antes da aplicação.
- Faça várias refeições ao dia, em pequenas quantidades – de 2 em 2 horas, ou de 3 em 3 horas, mesmo antes de sentir fome, evitando ficar muito tempo de estômago vazio.
- Coma devagar, mastigando bem os alimentos.
- Coma alimentos de fácil digestão, evite alimentos gordurosos e frituras.
- Evite odores (cheiros) fortes.
- Evite cozinhar quando estiver nauseado.
- Evite idas à cozinha no momento em que os alimentos estão sendo preparados.
- Prefira alimentos leves e de fácil digestão.
- Evite alimentos muito quentes. Faça opção por alimentos frios ou em temperatura ambiente. As balas azedas, alimentos secos como bolachas salgadas e torradas ajudam a reduzir o enjoo.
- Evite a desidratação, tomando bastante líquido, vagarosamente durante todo o dia; evite líquidos durante as refeições, dê preferência a sucos e água gelada.
- Evite deitar-se logo após as refeições.
- Nos dias que antecedem e sucedem à aplicação, priorize atividades relaxantes, que lhe tragam bem-estar, a fim de evitar aumento de ansiedade. Vista roupas leves e folgadas, evitando comprimir o abdome.
- Quando estiver enjoado, não force a ingestão de líquidos ou alimentos – utilize o remédio orientado pela equipe médica.
- Em caso de vômitos persistentes, contatar a equipe médica.
ALOPÉCIA (QUEDA DE CABELOS/PELOS)
Algumas drogas quimioterápicas atingem o crescimento e a multiplicação das células que dão origem ao cabelo, podendo deixar os fios mais finos, frágeis e quebradiços, provocar a queda de forma total ou parcial. Esse efeito geralmente ocorre a partir da segunda ou terceira semana do tratamento, acentuando-se ao longo das aplicações. É importante lembrar que este efeito é temporário e, após o término do tratamento, o cabelo volta a nascer em ritmo próximo ao normal.
DICAS
- Sugerimos cortar os cabelos, uma vez que o peso do fio longo pode desprendê-lo do couro cabeludo mais facilmente. Considerar a opção de confeccionar peruca com o próprio cabelo.
- Escove os cabelos delicadamente, evite o uso de escovas com cerdas duras.
- Dê preferência a xampus neutros, suaves que evitam o ressecamento do cabelo ou do couro cabeludo.
- Evite o uso do secador, permanentes, alisamentos e tinturas; seque os cabelos com toalha macia, sem esfregar muito.
- Evite fatores que dificultam o crescimento do cabelo como calor, umidade e oleosidade, portanto não utilize lenços, toucas ou perucas durante o dia todo.
- Evite prender o cabelo com grampos, elásticos ou presilhas.
- Evite exposição do couro cabeludo à luz solar, protegendo-o com filtro solar, chapéu ou lenço até seis meses após o término do tratamento; deve-se evitar o uso de produtos químicos, como pinturas e permanentes, pois os cabelos geralmente voltam a nascer mais finos, para gradativamente atingirem a espessura normal.
MUCOSITE
Alguns medicamentos podem afetar as mucosas do corpo, são as chamadas mucosites (inflamação da mucosa). Podem acontecer no trato gastrointestinal ou região vaginal e causam desconforto na mucosa, sensibilidade, ardência, vermelhidão, descamação, aparecimento de aftas; podem ser dolorosas e muitas vezes dificultam a alimentação. Essas lesões podem aparecer de 2 a 10 dias após a aplicação da quimioterapia. Ao sentir qualquer um desses sintomas, deve-se comunicar ao médico para que medidas preventivas sejam tomadas, evitando infecção.
DICAS
- Procure um dentista antes de iniciar o tratamento, para fazer uma limpeza, tratar alguma cárie ou inflamação.
- Realize higiene oral com maior frequência, após cada refeição, ao levantar-se e antes de dormir.
- Utilize uma colher rasa de bicarbonato de sódio dissolvido em um copo pequeno de água filtrada e fervida, para bochechar após as refeições.
- Evite escova de dentes com cerdas duras, ou, em casos de maior sensibilidade, uma boa alternativa é passar o creme dental com algodão enrolado em uma espátula.
- Evite usar produtos de higiene oral que contenham álcool na sua fórmula.
- Evite ingerir alimentos quentes, picantes ou muito duros.
- Beba bastante líquido.
- Prefira alimentos pastosos, macios, leves e com pouco sal.
- Evite comer frutas ácidas (limão, tangerina, abacaxi, etc).
- Utilize soluções de nistatina, bepantol e gelo para bochechos e gargarejos, conforme orientação da equipe de saúde.
ALTERAÇÕES DA PELE E UNHA
Alguns medicamentos podem tornar sua pele seca, mais escura e mais sensível à luz solar. As unhas também podem ficar mais quebradiças, escuras, com crescimento mais lento. Esses efeitos são passageiros e em geral desaparecem alguns meses após o término do tratamento.
DICAS
- Evite exposição excessiva ao sol, principalmente nos horários das 10h às 16h.
- Utilize diariamente filtro solar com fator de proteção maior ou igual a 30. Aplique o filtro solar 30 minutos antes da exposição ao sol e reaplique a cada 2 horas.
- Evite tomar banho muito quente, aplicar perfume diretamente sobre a pele e usar cosméticos sem orientação médica.
- Fique atento aos locais que foram puncionados para a administração dos quimioterápicos e comunique à enfermagem qualquer alteração nestes locais.
- Utilize pelo menos uma vez ao dia hidratante (sem cheiro) na pele.
DIARREIA
A diarreia (evacuações frequentes com fezes amolecidas), efeito colateral presente em alguns protocolos do tratamento, pode causar desidratação, que é a perda de líquido do organismo. A desidratação pode acarretar complicações como fraqueza, tontura, taquicardia (pulso acelerado), confusão mental e hipotensão. Alguns medicamentos quimioterápicos podem provocar diarreia em maior ou menor intensidade. É importante descrever ao seu médico os sintomas, frequência, consistência, cor das fezes e se está acompanhada de cólicas ou sangue.
DICAS
- Beba bastante líquido, de preferência água de coco.
- Evite frituras, alimentos muito temperados e gordurosos.
- Evite frutas e legumes que não estiverem maduros.
- Evite leite e derivados.
- Evite café ou outras bebidas que contenham cafeína (chá preto, chocolate) por todo o tempo que persistir a diarreia.
- Evite o uso de papel higiênico após as dejeções diarreicas – prefira realizar higiene perianal com ducha.
- Utilize medicações somente autorizadas pela equipe de saúde.
- Diarreia com febre deve ser imediatamente comunicada à equipe.
PRISÃO DE VENTRE (CONSTIPAÇÃO INTESTINAL)
A constipação, ou dificuldade de evacuar as fezes, pode ser consequência do próprio tratamento quimioterápico, de outras medicações em uso, ou decorrente de alterações dos hábitos alimentares (com pouca ingestão de fibras) e inatividade física.
DICAS
- Beba bastante líquido – no mínimo 2 litros por dia.
- Pratique exercícios físicos leves todos os dias, se possível, como caminhada (sempre com a orientação do seu médico).
- Dê preferência a alimentos laxantes; em casos mais persistentes, a nutricionista pode orientar a dieta e o médico pode prescrever o uso de laxantes.
ANEMIA
As células do sangue também são afetadas pela quimioterapia, podendo ocorrer uma queda no número de hemácias – glóbulos vermelhos do sangue – causando anemia. Esta pode levar à sensação de fraqueza, cansaço, falta de ar, tontura e edema nos pés. Em alguns casos se faz necessário o uso de transfusão de sangue ou tratamento para estimular a produção de hemácias (eritropoetina).
DICAS
- Evite atividades que exijam muito esforço físico.
- Descanse bastante e procure dormir bem.
- Coma alimentos ricos em ferro.
LEUCOPENIA
A quimioterapia pode afetar os leucócitos – glóbulos brancos do sangue – que são responsáveis pela defesa do nosso organismo. São eles que destroem as bactérias, fungos e vírus. Se o número de leucócitos estiver reduzido, o indivíduo fica mais propenso a infecções. Durante o período de tratamento, é realizado um acompanhamento das condições do paciente através de exames de sangue e em alguns casos é necessário o uso de medicações para estimular a medula a produzir leucócitos.
DICAS
- Evite locais fechados e muito cheios, pouco ventilados e úmidos (com mofo).
- Evite encontrar pessoas com alguma doença infecciosa.
- Atente à febre (temperatura acima de 37,8°C), comunicando ao seu médico.
- Faça uma boa higiene pessoal, lavando bem as mãos antes das refeições, ao chegar em casa e ao usar o banheiro.
- Faça uma limpeza constante da boca e dentes. Mantenha as unhas sempre cortadas e limpas.
- Lave bem os alimentos antes de comê-los.
- Evite alimentos crus.
- Evite espremer furúnculos, espinhas ou cravos.
- Evite tomar banho de rio, lagoa ou piscina coletiva.
- Evite tirar cutículas das unhas.
- Tenha cuidado ao fazer barba, axilas ou pernas.
- Troque as toalhas de banho regularmente e não as dívida com outras pessoas.
- Evite lidar com terra, plantas ou água de vasos de flores.
- Use luvas de proteção quando lidar com jardinagem ou limpar seus animais.
PLAQUETOPENIA
A quimioterapia pode causar a diminuição do número de plaquetas – células do sangue responsáveis pela coagulação. O número reduzido de plaquetas torna o indivíduo mais propenso a sangramentos.
DICAS
- Observe se há presença de sangramento nasal, oral, intestinal ou urinário e comunique ao seu médico.
- Evite traumas e a manipulação de objetos cortantes (tesoura, faca).
- Utilize escova de dentes com cerdas macias, observe sangramento na gengiva.
- Tratamento dentário, quando necessário, requer autorização do médico assistente.
- Evite o uso de injeção intramuscular, subcutânea e intradérmica.
- Observe e comunique a ocorrência de hematomas na pele.